Sobre blog
Um dia, o professor de Ética Kleber Jean Matos Lopes, do curso de Jornalismo da UVV, acordou como Zé, o outro. Nada de estranho, em se tratando do blog administrado por ele (http://zeooutro.zip.net) de 25 de agosto de 2004 a 20 de abril do ano passado, como parte da metodologia aplicada à sua pesquisa de doutorado em Psicologia.
"Em sua tese, ele analisou a "condição blogueira", ou seja, como as pessoas se relacionavam e projetavam suas personalidades na Internet.
Um ano depois da experiência participativa em seu blog, Kleber constatou que os relacionamentos estabelecidos nestes espaços se assemelham aos da vida cotidiana, quando as pessoas permitem ser elas mesmas e não uma imagem ou "script" que constroem para si.
O outro. Para compreender os mecanismos de figuração (a criação de um "script" e a crença nessa personalidade fictícia) e transfiguração (quando o blogueiro – pessoa que escreve um blog – permite ser ele mesmo e estabelecer relacionamento com outros), Kleber inventou um personagem, o Zé.
Desta forma, apresentou-se à comunidade blogueira e começou a "postar" (enviar) mensagens para o seu blog, além de fazer comentários em outros. Mas, três meses depois, percebeu que essa imagem não se sustentava. "Às vezes, fui eu mesmo, mas não dei conta de ser Zé, o outro", afirma. Foi aí que "a ficha caiu", diz. "Algumas pessoas, quando vão se relacionar com outras, montam scripts de si mesmas, mas ninguém consegue cumprir isso porque as pessoas se transformam em outras, seja no ambiente real ou no cibernético", analisa.
Os relacionamentos se estabelecem quando o blogueiro se transfigura, reconhece que ele mesmo é um "outro" em relação a alguém. "A transfiguração não depende só de você, mas no relacionamento que se estabelece com o outro."
Isso ficou mais claro quando o professor abandonou o personagem "Zé" e passou a postar mensagens como Kleber. "Aí sim comecei a me relacionar pela Internet. Os comentários que eu respondia em meu blog traziam mais pessoas para ele. Quem fazia figuração, desapareceu do blog. Já as que se transfiguravam, construíram histórias, vivenciaram algo novo", conclui.
A intenção de postar essa matéria, que saiu na A gazeta do dia 25 deste mês, é de pensar sobre nosso blog, flog, orkut. ..
Fazemos deles nossa atualidade, nossa virtualidade ou nossa imaginação?
Queremos ser na Net o que realmente somos ou preferimos usa-la para criar o que deveríamos ou preferiríamos ser?
Somos o que somos ou que os outros gostam que somos?
Seriam os blos, flogs, orkut uma forma de imagem ou uma forma de identidade?
Por que os criamos?