23 abril 2006

Consumir pra viver ou viver pra consumir?

"Por um lado está bom e por outro não. Acho que o preço das coisas continua caro mas, trabalhando, a gente consegue. Estou pagando a prestação de uma geladeira, que comprei em 10 vezes, pelo mesmo preço de à vista. Televisão de 29 polegadas? Quando eu comecei a trabalhar eu não tinha nem preto-e-branco. Eu também nunca pensava em comprar um carrinho, não tinha esperança. Agora compramos um Corsa. Já passei tanta coisa nesta vida, quando morava no Sossego, que em Carapina eu estou me sentindo perto do céu. Eu trabalho aos sábados e domingos e meu marido está trabalhando em Minas Gerais, porque aqui não achava emprego. Para quem trabalha está bom, mas para quem quer ficar só de braço cruzado não vai melhorar nunca."

Esse é o depoimento de Milta Ferreira Bastos, uma diarista, 42 anos, casada e mãe de seis filhos à Gazeta de hoje para a matéria “Valorização do salário mínimo cria novas classes de consumidores”.

O objetivo deste post não é criticar o depoimento da diarista e nem falar sobre o que saiu na matéria, mas sim refletir um pouco sobre os significados do consumo para nossas vidas.

Consumimos constantemente e não paramos um instante para refletir sobre os efeitos do consumismo em nossas vidas. E nem sequer achamos isso importante, pois o consumir, está associado a conquistas, a vitórias, a qualidade de vida, a sucesso. Não é à toa que em cima da foto da Milta estava o título “Vida de sucesso”.

Quando nosso poder de compra é elevado, temos a sensação de ter conquistado um enorme poder: o poder de consumir muito além do que precisamos. Temos o poder de satisfazer nossos desejos (a casa, o carro, o celular, os óculos de marca). Entretanto, um poder disfarçado, pois estamos simplesmente reproduzindo o "ciclo de desejo-aquisição-desilusão-desejo renovado" -denominado assim por Campbell.

Somos então uma sociedade hedonista, ou seja, temos o prazer individual e imediato como supremo bem da nossa vida?Acho que não! Vivemos uma busca eterna de estímulos externos, de desejos insaciáveis (pois o novo fica velho rapidamente e temos que consumi-lo novamente), desperdiçamos e consumimos sem nos satisfazermos. Quando um novo carro nos tornou permanentemente felizes? Um novo amante? Uma roupa nova? O prazer é tão fugidio quanto o desejo original de consumir. Os nossos desfrutes são marcados por sua futura e inevitável perda, traçado, ainda, por um desejo urgente de ter mais. Não temos a experiência do verdadeiro prazer, nem mesmo do prazer imediato, pois essa nossa realização individual está fadada ao fracasso .

Percebo que somos na verdade uma sociedade que pensa ser feliz e ter sucesso com o consumo, mas que na realidade estamos é nos consumindo com tudo isso e nos tornando carentes afetivamente, solitários, tensos, frustrados profissionalmente, estressados ou simplesmente “tediados”.

4 Comments:

Blogger Vitor Taveira said...

"mesmo quando ele consegue o que ele quis
quando tem já não quer
acha alguma coisa nova na tv
e que não pode ter
deixa de gostar
larga mão do que ele já tem
passa então a amar
tudo aquilo que não ganhou"
(um par-los hermanos)

Ainda bem que eu tenho uma puta preguiça de consumir...

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